quinta-feira, julho 24, 2008

Fragilidade

Estou de férias... Mais um ano lectivo terminado, um ano muito mais enriquecedor a nivel intelectual e a nível pessoal, mais experiências, maior consciência da profissão que se avizinha... Ensinam-me diariamente como diagnosticar, como tratar, como avaliar o prognóstico. Há doenças fáceis de diagnosticar, outras que exigem maior perspicácia; há tratamentos eficientes, outros nem tanto e outros que nem sequer foram ainda descobertos; quanto ao prognóstico aprendemos quais as doenças com boa evolução e outras pelas quais não poderemos fazer muito para melhorar... Tudo bem até aqui, parece que podemos resumir mais ou menos assim aquilo que realmente interessa saber! No entanto sinto falta de um outro conhecimento: o saber lidar com o sofrimento, com a dor psicológica, com a morte... Eu sei que esse vai ser a vida a dar-me mas preferia que também viesse nuns quantos paragrafos ou esquemas em que me demoraria apenas alguns minutos.

O que fazer quando nem a esperança serve? O que dizer quando o fim cada vez se torna mais claro? Como aguentar as lágrimas que teimam em cair...
Não sei ainda as respostas a estas perguntas, não sei se saberei algum dia... Tenho vontade de voltar àquela idade em que os nossos pais eram mestres em disfarçar os acontecimentos maus e em que nós ainda não suspeitávamos que poderia haver muito mais que os colegas da escola e o baú cheio de brinquedos. Quero ser criança mas já sou adulta! Não é a idade que me diz mas sim a vida que me empurra, me obriga a crescer e me mostra que o tempo da redoma de vidro já lá vai e que a independencia adquirida, que às vezes sabe tão bem, também serve para agir. Não é mais o momento para ser protegida, mas sim de dar o passo em frente, o momento de ser eu a proteger e a cuidar.
A vida é frágil, e quando está perto do fim, mais frágil fica e tem que ser cautelosa mas sempre determinada, a forma como a deveremos segurar, para que entre o calor das nossas mãos esta se aguente mais um tempo, aquele tempo que julgávamos eterno e que agora parece depender de nós...

1 comentário:

ni disse...

Nunca nos prepararão para lidarmos com a morte... mas também nunca vamos saber como agir perante ela... e é isso que nos faz humanos... somos frágeis, egoistas e incapazes de lidar com o facto das coisas serem finitas! E é tão duro... porque tudo acaba de forma tão injusta e imperfeita... :(

faz 13 meses que assisti (literalmente), pela primeira vez, a uma morte, num hospital... e atenho a certeza que nunca me vou esquecer... foi num S.U... não conhecia a pessoa mas senti o desespero da familia apesar de ser uma morte anunciada há muito...e, garanto-te, nunca vou esquecer aquele corpo ensanguentado e abandonado numa cama... :(